A minha história pessoal tem um antes e um depois de minha vivência acadêmica com o Seminário Teológico de Fortaleza (STF).
Lembro-me do primeiro dia de aula. O
Rev. Frank Arnold, então deão, foi o responsável por nos receber, depois é
claro de um trote dado por um professor. O STF sempre foi esse espaço do
sorriso e da alegria como é da vocação nordestina de ser.
Eu, quando naquele ano, 1994, tinha meus
21 anos, mas com aparência de 17 anos. O professor Rev. Frank Arnold, com seu
jeito iluminado de ser, olhou para mim e brincou: “O que esse menino está
fazendo aqui?” Todos sorriram e minha colega Quintina aproveitou para brincar,
posteriormente, comigo: “Menino, vai limpar esse sujo de Nescau”. Era um ensaio
de bigode que eu tinha!
Naquela mesma aula inaugural o Rev.
Frank Arnold comunicou a filosofia do STF numa simples frase: “Cuidem de sua
espiritualidade, e nós cuidaremos da letra, do saber”. Para mim essa instrução
foi uma ordem que transformei em filosofia de vida: cuidar de minha
espiritualidade; e deixar a academia lidar com o saber”.
Ali estava eu. Um tanto inocente da
situação, da vida e talvez nem imaginasse o salto que havia dado para nunca
mais voltar. Como dei esse salto? Como estava ali sentado na primeira aula
contra todas as expectativas?
Como não tinha condições de comprar
livro fiz da biblioteca a minha principal aliada. Meu nome: rato de biblioteca!
Minhas melhores amizades: as bibliotecárias do STF.
Acredito que fiz parte de um momento e
de uma turma que viveu o melhor momento do STF. Tive professores que encantaram
e desencantaram as estruturas de nossas vidas. As pedras brutas eram esculpidas
para se tornarem pura arte!
O STF era amor ao belo; berço do novo;
espaço da criatividade; nascer das capacidades latentes, e das potencialidades
do amanhã.
No STF aprendi a pensar por mim mesmo e
livre do policiamento do legalismo. Aprendi a olhar o mundo de forma
impactadora e a repensar a vida de forma sonhadora.
No STF aprendi a arte de ler a Bíblia
com devoção e profundo conhecimento da literatura, linguagem e história
bíblica.
No STF aprendi a amar o saber e me
tornar um pesquisador do novo. Aqui eu iniciei a careira da construção do saber
aprendendo a amá-lo e buscá-lo.
No STF aprendi a necessidade de ter mentor
e modelo que me inspirasse para avançar.
No STF aprendi a amar mais a igreja e
buscar contribuir com seu progresso e brilho.
Hoje, 18 anos depois de minha formatura,
já tenho vivido a experiência de ser e viver a Igreja. O STF me indicou o caminho
e eu continuei. O mesmo STF me proporcionou a Licenciatura Plena em Ciências da
Religião (em convênio com a Universidade Estadual Vale do Acaraú) e o Mestrado
em Teologia. Inspirado no que aprendi, busquei uma formação em História e uma
especialização na área. Hoje, tenho Mestrado em Ciências da Religião pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Sinto orgulho de saber que o STF não
somente mudou minha vida, mas a de muitos jovens que cheios de boa vontade
deitaram nesse berço.
Sinto orgulho ao perceber que alguns dos
meus professores hoje estão em destaque no universo teológico brasileiro
através do ensino em instituições de reconhecimento e publicações acadêmicas.
Sinto orgulho de saber que o seminário
que me formou deixou um legado para a igreja protestante no Nordeste e Brasil.
Ao me sentir tão capaz quanto qualquer
outro que fez seminário em outro espaço de saber teológico, percebo que em
Fortaleza existiu um centro de saber teológico de alto nível e que a excelência
era amiga desse espaço.
Sinto orgulho do STF porque ele é coisa
nossa: cearense, nordestino e tão suado quanto a testa de cada homem e mulher
que busca a virtude do Reino de Deus para nossa realidade.
Uma vida salva é como salvar o mundo. Se
essa é uma verdade possível, afirmo que o STF me salvou ao me dá a condição de
desejar mais e transformar a vida num gostoso tricotar de palavras, pensamentos
e atitudes de liderança.
Quando as luzes se apagam as estrelas
brilham mais. O legado o STF é eterno, pois se encontra hoje no jeito de ser da
igreja cearense (e nordestina) e na vida de cada líder que hoje pastoreia as
igrejas cearenses e brasileira com o gosto e a graça encontrados nessa casa de
profetas.
O STF nasceu como um milagre para
atender uma geração e um momento. Não vai embora porque caducou. Apenas adormece
como fazem os heróis e os vultos. É aqui que ele haverá de se tornar um mito. O
nosso mito! Para mostrar ao mundo que é possível tornar desertos em jardim e um
matuto em mestre.
Sei que com o STF fiz história: a
história do fazer teológico nos braços da Iracema de José de Alencar (nossa
Fortaleza). Minha matrícula e permanência nessa instituição teológica, sem ter
a nítida noção na época, era minha contribuição para a construção da ciência
teológica no universo do saber brasileiro, onde nossa cearencialidade escreve
também sua história.
Na historicidade das coisas pouco a pouco
algo se torna patrimônio histórico e da memória. Queremos preencher o vazio da
ausência contando a história do ontem. É a velhice que resiste e persiste em
sonhar com o novo.
Com o STF não desaparece somente a vida
acadêmica de uma instituição teológica, mas os laços que ligava a nossa
existencialidade a lembranças, momentos e pessoas e que estendia a nossa
experiência de viver a sentimentos profundos. Com o fechamento do STF morremos
um pouco também. O vazio que fica é o próprio vazio das conexões que transcendiam
e que afirmavam que a partir dele as amizades continuavam e as pessoas não
envelheciam e nem sumiam.
Haverei de um dia, se Deus quiser, aos
70 anos, quando numa cadeira de balanço, ao fechar os olhos para mentalizar
entrando no STF, mundo estranho que se tornaria tão amigo, dizer: “Valeu a pena
ter estado aqui. Faria tudo novamente, pois você fez toda diferença!”
À minha turma de 1994 quero apenas
afirmar que vocês são simplesmente em minha vida e memória um milagre gostoso
de Deus: Perito, Edilauba, Quintina, Vania, Verônica, Éldia, Everaldo e Luci.
Lembrem-se: fomos o auge de uma era e seremos o auge de um futuro!
Ao meu professor e mentor Rev. Aureo
Rodrigues de Oliveira: não foi em vão seu legado.